Linguística e a Consciência Fonológica

         O processo de aquisição da linguagem oral e escrita constitui-se  como espaço de ampliação das capacidades de expressão e comunicação , em que as crianças passam a ter acesso ao mundo letrado que as cerca. Para os linguistas, as variações linguísticas são mais relevantes do que a norma padrão da língua, ou o que consideramos o jeito “certo” de falar. A linguística procura descobrir como a língua funciona, estudando suas variações – incluindo as populares e as faladas nas diversas comunidades. É uma área científica que aborda o funcionamento da linguagem humana e busca conhecer a constituição das línguas por meio do trabalho descritivo. Existem várias áreas de interesse no estudo da linguística, como fonética, fonológica, morfológica, sintaxe, semântica, entre outras. No Brasil existiram importantes linguistas que contribuíram para o desenvolvimento das ciências da linguagem, propagando suas ideias voltadas às preocupações técnicas descritivas da língua.

         As crianças que entram hoje na escola têm um ritmo de aprendizagem e interesse muito diferente das crianças de antigamente; as novas tecnologias e mídias educacionais mudaram o cenário do processo de aprendizagem. É preciso que o professor considere a importância do trabalho com os diversos tipos de textos, oferecendo para seus alunos espaços de leitura que contemplem obras importantes da literatura nacional, poesias, prosas, crônicas, gibis, dicionários ilustrados, entre outras. Essas obras auxiliam no trabalho de desenvolvimento linguístico do aluno, além de proporcionar um referencial diversificado. Os professores que atuam com o ensino da Língua Portuguesa precisam conhecer sobre fonética e sobre o funcionamento da fonologia na língua para, assim, atender às necessidades de seus alunos. Qualquer compreensão do princípio alfabético deve entender que as crianças em processo de alfabetização precisam associar sons com letras. Para quem já sabe ler e escrever, esse é um processo de fácil visualização, mas para as crianças que estão começando a entrar nesse universo, isso não ocorre de forma simples e natural: trata-se de uma aprendizagem. As pequenas unidades da fala, já conhecidas por nós como fonemas, precisam ser compreendidas pelas crianças em um contexto de que a língua também é composta de pequenos sons que denominamos de consciência fonológica. A criança, no processo de alfabetização, precisa adquirir uma consciência fonológica, ou seja, precisa perceber, ter consciência do som da fala. Essa é uma capacidade cognitiva que precisa ser trabalhada e desenvolvida, pois contribui com o processo de aquisição da leitura e da escrita. Para tanto, a criança precisa compreender o princípio alfabético e desenvolver habilidades que possibilitem o reconhecimento de sílabas e fonemas nas palavras assim como, o conhecimento das correspondências entre som e letras. Existem algumas técnicas da fonologia que podem ser empregadas com os alunos, gerando mais interesse sobre o ensino da língua. Uma atividade prática para trabalhar os fonemas é a gravação de sons, na qual o professor, por meio de um gravador, irá ouvir os sons do ambiente junto aos alunos e, em silêncio, realizar a gravação desses sons, podendo, posteriormente, propor um momento para o relato do que ouviram, como o barulho da porta, o som dos pássaros, entre outros. Dessa maneira, os alunos serão estimulados a ouvir, de forma sensível e atenta, os sons que estão ao redor, podendo decifrá-los repetidamente. É imprescindível que o professor saiba lidar com as variações fonéticas. A consciência fonológica deve fazer parte das práticas de alfabetização. É necessário, portanto, criar meios para que as crianças notem os fonemas, descubram sua existência e a possibilidade de separá-los.

         A consciência fonêmica consiste na capacidade de analisar os fonemas que compõem a palavra. Essa capacidade, a mais refinada da consciência fonológica, é também a última a ser adquirida pela criança. Atividades como dizer quais ou quantos fonemas formam uma palavra, formar novas palavras substituindo o fonema inicial da palavra, são exemplos que se trabalha com a consciência fonêmica. Os segmentos sonoros não possuem significados em si mesmos, mas permitem diferenciar uma unidade linguística significativa de outra.

Palavra      Fonema (unidade sonora que compõe as palavras)

FACA      /f/ /a/ /k/ /a/

VACA     /v/ /a/ /k/ /a/

         As aliterações, realiza-se por meio de sons semelhantes, não de letras. Consiste na repetição de consoantes ou sílabas, em duas palavras, dentro do mesmo verso, estrofe ou frase. Os gêneros trava-línguas são um bom exemplo de utilização da aliteração, pois repetem, no decorrer da frase, várias vezes o mesmo fonema.

         A consciência silábica consiste na capacidade de segmentar as palavras em sílabas. Esta habilidade depende da capacidade de realizar análise e síntese vocabular. São atividades como contar o número de sílabas, dizer qual é a sílaba inicial, medial ou final de determinada palavra e também contar, segmentar, unir, adicionar, suprimir, substituir e transpor uma sílaba da palavra formando um novo vocábulo. Perceber que a palavra JANELA tem três pedaços (sílabas) que a palavra CASA tem dois, e que portanto, a primeira palavra é maior. Identificar que, ao mostrarmos quatro figuras (gato, bode, galho e mola), que gato e galho começam com /ga/. Identificar que no interior das palavras SERPENTE e CAMALEÃO há outras como /pente/, /leão/ e /cama/. Identificar nas figuras de chupeta, galinha, panela e varinha, que as palavras galinha e varinha rimam. A consciência de palavras, também chamada de consciência sintática, representa a capacidade de segmentar a frase em palavras e, além disso, perceber a relação entre elas e organizá-las numa sequencia que dê sentido. Permite focalizar as palavras e sua posição na frase, ordena a oração. Vale ressaltar que a consciência fonológica é um conjunto de habilidades que nos permite refletir sobre as partes sonoras das palavras.

Referência:

COLOMER, T.; CAMPS, A. Ensinar a ler, ensinar a compreender. Porto Alegre: Artmed, 2002.

CAPOVILLA, A. G. S.; CAPOVILLA, F.C. Alfabetização: Método Fônico. São Paulo: Memnon, 2007.

MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 10. São Paulo: Cortez, 2010.

SOARES, Magda. As muitas facetas da alfabetização. Caderno de Pesquisa. São Paulo. 1985.

SOARES, Magda. A reinvenção da alfabetização. Revista Presença Pedagógica, 2003.